O Advento de Nosso Senhor é celebrado por quatro semanas para significar que Sua vinda é quádrupla: Ele veio a nós em carne, Ele vem a nossos corações, Ele vem a nós na morte e Ele virá no Juízo Final. A quarta semana não está completa, porque a glória dos eleitos a ser concedida na última vinda de Nosso Senhor nunca terá fim.
Enquanto a vinda de Nosso Senhor é quádrupla, a Igreja se volta especialmente para duas delas, a vinda de Nosso Senhor na carne e Sua vinda no Juízo Final. Assim, o jejum do Advento é em parte um jejum de regozijo por causa da vinda de Cristo em carne, a Encarnação; ao mesmo tempo, é em parte um jejum de contrição, olhando para a suprema vinda de Cristo no Juízo Final.
I - Sobre a vinda de Nosso Senhor em carne, duas coisas devem ser consideradas: como é oportuna e como é útil.
A primeira vinda de Nosso Senhor deve nos dar alegria |
1. É oportuno primeiro, porque o homem, condenado pela natureza a ter um conhecimento incompleto de Deus, caiu nos piores erros da idolatria e foi reduzido a clamar: “Ilumine meus olhos."' Segundo, Nosso Senhor veio na plenitude dos tempos, como diz São Paulo na Epístola aos Gálatas. Em terceiro lugar, Ele veio quando o mundo inteiro estava doente, como diz Santo Agostinho: "O grande Médico veio quando a humanidade estava doente em todo o mundo."
É por isso que a Igreja, nas sete antífonas cantadas antes do Natal do Senhor, recorda as diversas doenças e quão oportuno é este remédio divino. Antes que o Filho de Deus viesse em carne, éramos ignorantes e cegos, sujeitos ao castigo eterno, escravos do diabo, algemados por nossos hábitos pecaminosos, envoltos em trevas, exilados de nossa verdadeira pátria. É por isso que essas antífonas proclamam Nosso Senhor como nosso Mestre, nosso Redentor, nosso Libertador, nosso Guia, nosso Iluminador e nosso Salvador.
2. Quanto à utilidade da vinda de Cristo, diversas autoridades a definem de diversas maneiras. O próprio Jesus Cristo no Evangelho de São Lucas nos diz que Ele veio por sete motivos: consolar os pobres, curar os aflitos, libertar os cativos, iluminar os ignorantes, perdoar os pecadores, redimir o gênero humano e para recompensar cada um de acordo com seus méritos. E São Bernardo diz: “Sofremos de uma tríplice doença: somos fáceis de seduzir, lentos para agir e fracos para resistir. Portanto, a vinda de Nosso Senhor é necessária primeiro para iluminar nossa cegueira e depois para ajudar nossa fraqueza.”
II - Quanto à segunda vinda, ou seja, o Juízo Final, devemos considerar as circunstâncias que o precederão e as que o acompanharão.
A segunda vinda de Nosso Senhor para o Juízo Final deve levantar nossa contrição |
1. Três tipos de circunstâncias precederão o Juízo Final: sinais terríveis, a impostura do Anticristo e um imenso incêndio na terra.
R. Cinco tipos de sinais precederão o Juízo Final, pois, como diz São Lucas: “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; na terra, as nações estarão em angústia e perplexidade com o rugido e a agitação do mar. (21,25)
Podemos encontrar um comentário sobre todas essas coisas no Apocalipse.
São Jerônimo, por sua vez, encontrou 15 sinais anteriores ao Juízo Final nos anais dos hebreus:
- No primeiro dia, o oceano se elevará acima das montanhas e ficará ereto, imóvel como uma parede;
- No segundo dia, o oceano afundará tanto que mal será possível vê-lo;
- No terceiro dia, monstros marinhos aparecerão nas ondas e darão rugidos que subirão ao céu;
- No quarto dia, a água do oceano ferverá;
- No quinto dia, as árvores e todas as plantas exalarão um orvalho de sangue;
- No sexto dia, todos os edifícios cairão;
- No sétimo dia, as pedras se partirão em quatro pedaços, que se chocarão entre si;
- No oitavo dia, um terremoto universal derrubará todo homem e animal no chão;
- No nono dia, a terra será nivelada e as montanhas e colinas serão reduzidas a pó;
- No décimo dia, os homens deixarão seus esconderijos e vagarão como loucos, sem poder falar uns com os outros;
- No décimo primeiro dia, os ossos dos mortos sairão de suas sepulturas;
- No décimo segundo dia, as estrelas cairão do firmamento;
- No décimo terceiro dia, todos os seres vivos morrerão para depois ressuscitarem com os mortos;
- No décimo quarto dia, o céu e a terra queimarão;
- No décimo quinto dia, haverá um novo céu e uma nova terra, e todos serão ressuscitados.
B. O Juízo Final será precedido pela impostura do Anticristo, que tentará enganar os homens de quatro maneiras:
- Por uma falsa interpretação das Escrituras tentando provar que ele é o Messias prometido;
- Pela operação de milagres;
- Pela distribuição de presentes;
- Pela imposição de torturas.
C. O Juízo Final será precedido por um fogo violento, aceso pelo próprio Deus para renovar o mundo, punir os réprobos e chamar a atenção para o grupo dos eleitos.
O Anjo anunciará os sinais do fim |
2. Sobre as circunstâncias que acompanharão o Juízo Final, a primeira a ser mencionada é a separação dos bons dos maus. Pois é sabido que o Juiz virá no Vale de Josafá e colocará os bons à Sua direita e os maus à Sua esquerda. Isso não significa, como observa São Jerônimo, que todos os homens terão que estar naquele pequeno vale, mas apenas que será o centro do Juízo. Isso não exclui que Deus, se assim o desejar, possa colocar naquele espaço um número infinito de homens [já que seus corpos ressuscitados não mais ocuparão espaço].
Em seguida vem a questão de saber as categorias em que os homens serão divididos quando vier o Juízo Final. São Gregório admite quatro categorias: duas para os réprobos e duas para os eleitos. Entre os réprobos estarão os que serão condenados e os que já foram condenados, sobre os quais foi dito: “Quem não crer, será julgado previamente.” Entre os eleitos estarão aqueles que julgarão os demais sentados ao lado do Juiz.
No Juízo Final estarão presentes os sinais da Paixão: a Cruz, os instrumentos da Paixão e as suas cicatrizes; São João Crisóstomo diz que “a Cruz e suas cicatrizes serão mais brilhantes do que os raios do sol.”
O Juiz será inflexivelmente severo. Ele não se curvará nem pelo medo, porque é Todo-Poderoso, nem pelos dons, porque é a própria riqueza, nem pelo ódio, porque é a própria bondade, nem pelo amor, porque é a própria justiça, nem pelo erro, porque é a própria sabedoria. Contra esta Sabedoria não prevalecerão nem as alegações dos advogados, nem os sofismas dos filósofos, nem as frases dos oradores, nem as astúcias dos hipócritas.
O Juiz será tão severo quanto o promotor será implacável. Em outras palavras, o pecador enfrentará três acusadores: o Diabo, o pecado e o mundo inteiro, porque, como diz São Crisóstomo: “Naquele dia, o céu e a terra, a água, o sol e a lua, o dia e a noite, o mundo inteiro se levantará contra nós diante de Deus, em testemunho de nossos pecados.”
Três testemunhas também deporão contra nós, todas as três infalíveis: Primeiro, Deus, que nos disse pela voz de Jeremias: “Eu sou ao mesmo tempo juiz e testemunha;” segundo, nossa consciência, e terceiro, nosso Anjo da guarda, pois lemos no livro de Jó: “Os céus (isto é, os Anjos) revelarão sua iniquidade.”
Finalmente, a sentença será irrevogável. Com efeito, a sentença é irrevogável por três motivos: a excelência do Juiz, a prova do crime; a impossibilidade de reverter o castigo. Pois na sentença pronunciada contra nós no Juízo Final, não haverá Rei, Imperador ou Papa a quem possamos apelar da sentença pronunciada contra nós.
Traduzido pelo secretariado da TIA
La Légende Dorée, Paris: Perrin, 1909, pp.3-7 Postado em 8 de dezembro de 2023
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